O olhar na madeira. O entalhe. A mão firme. O formão. A forma. A linguagem. A obra. Assim surge a expressão artística em madeira e idéias nos trabalhos de Zé do Chalé, este sergipano descendente de índios Xocós, nascido em 1903, no povoado Saúde, município de Neópolis.
José Cândido dos Santos trabalhou na sua juventude trabalhou fazendo barcas que exibiam carrancas rasgando as águas dos rios. Mestre-de-obras por profissão, a relação direta com as obras que construía renderam-lhe o apelido que o tornaria conhecido além-fronteiras.
Autodidata, Zé do Chalé impunha em suas esculturas o traço forte das edificações. Da madeira surgia a geometria da expressão forte, do olhar admirado ou a transfiguração do espanto. Mulungu, cedro, pinho, umburana, pinho, jaqueira, até mesmo a dura maçaranduba serviam como a busca de um eu-próprio na arte que o formão delineava.
Começou a esculpir aos 89 anos, época em que, para muitos, as coisas estão findando. Figuras humanas, elementos da natureza como pássaros, folhas, estrelas, luas ou meia-luas, além de cruzes, apresentam a grande simbologia do artista, nascendo como se fossem lampejos de liberdade em meio a um mundo fechado, cruel, solitário.
É nessa nuance que Zé do Chalé escreve através das suas obras a retomada de sua memória ancestral indígena, seja nos homens com tanga de penas, seja nos elementos da natureza simbólica dos seus antigos.
Em janeiro de 2008, Zé do Chalé faleceu aos 105 anos de idade.